domingo, 20 de novembro de 2011

Capítulo 2- B Continuação: Aprofundando o conceito de Chochmá

Temos momentos de interiorização. Momentos em que nos sentimos mais propensos a olharmos para dentro de nós mesmos. Às vezes estamos com alguém, com quem sentimos confiança e segurança para expressar o nosso interior e viajamos por dentro de nós mesmos. São momentos, em que sozinhos, talvez não conseguíssemos fazer essa viagem, parece que precisamos de um estímulo externo, uma âncora, para não termos medo de mergulharmos em nós mesmos. Há momentos em que estamos com alguém em que nosso coração se abre, nossa mente se esvazia e sentimos uma plenitude como se estivéssemos em contato com algo superior. Esse estado de plenitude é o contato com as energias de Chochmá. Precisamos desse estímulo físico, que traz conforto, prazer do contato com a pele, o calor do corpo de alguém ao nosso lado, para sentir segurança em mergulharmos em nós mesmos. Quando estamos sozinhos e nosso mundo emocional não está ativado, racionalizamos tudo. Nossos pensamentos precisam da linguagem para expressar-nos para nós mesmos. Parece estarmos conversando conosco mesmo num diálogo lógico: “...porque será que eu reagi daquela forma com ela? Porque eu não falei o que realmente eu queria? Bom, talvez eu não estivesse preparado para isso, ou será que não era o que eu realmente queria?”. É o diálogo que se passa em nossa mente. Quando o fluxo emocional não está presente, ou não está pelo menos em equilíbrio com o fluxo mental, é necessária uma linguagem interna para pensarmos, contrariamente ao estarmos com as emoções presentes e fluindo. O fluxo mental necessita do fluxo emocional para acessar o mundo do Ein Sof. A meditação, a prática de mergulhar em nós mesmos é a metodologia cabalística para acessar o mundo infinito do Ein Sof através das energias da Chochmá. Estamos estudando isoladamente cada Sefirá, mas precisamos ter em mente que as Sefirot são um sistema, um organismo completo, que não atua em partes isoladamente.
Já abordamos como está constituído o Fluxo Mental na Árvore da Vida. A Sefirá Chochmá, que é o contato direto com as energias do Ein Sof, Biná, “centelha do pensamento consciente”, que estudaremos separadamente num próximo capítulo, é o entendimento e direcionamento da energia de Chochmá e Daat, que significa “saber” sendo uma energia que ao mesmo tempo coloca Chochmá e Biná juntas, também conecta o fluxo mental ao fluxo emocional. A meditação cabalística se utiliza das energias de Daat para possibilitar alcançarmos estados profundos de consciência alterada. Com o esvaziamento da mente, a energia de Chochmá está em seu estado puro, sem que nosso ego interfira no processo de ligação com as energias divinas. Assim, os cabalistas dividem a Sefirá de Chochmá em duas partes distintas, Nefesh Behamit e Nefesh Elokit. A alma animal e a alma Divina. Representam o conflito interno entre o estado consciente racional e o estado de plenitude explicado no parágrafo anterior. Vou me permitir dar um exemplo usando uma experiência pessoal para que possamos entender essa duplicidade da Sefirá de Chochmá, coisa que me contenho de fazer, para que esse estudo seja o mais imparcial possível. Em uma conversa com uma amiga minha, há algum tempo atrás, sentimos nos aproximarmos de uma forma mais íntima, um querer trocar carinhos, nos envolvermos emocionalmente e deixar o coração falar. Estávamos começando a esvaziar a mente para que as emoções puras pudessem se expressar e o contato com as energias puras do universo começassem a fluir em nosso interior. Logo percebemos que estávamos avançando por um caminho perigoso, que talvez pudesse provocar mágoas futuras, pois nos conhecíamos há muito pouco tempo. A razão e o ego, primeiro por parte dela e depois relutantemente por minha parte, substituíram o estado de plenitude. O racional tomou conta daquele momento e deixamos de nos sentir em plenitude sentindo a necessidade da proteção do chão, dos pés no chão, temendo machucar-nos. A famosa frase foi dita: “vamos dar mais tempo, vamos nos conhecer melhor”. Prevaleceu a Nefesh Behamit, a alma animal, e não a Nefesh Elokit, a alma divina. Os medos, os traumas, as decepções passadas nos fizeram voltar à consciência puramente racional. É o mesmo medo que surge ao tentarmos mergulhar em nós mesmos. Entendo que a sabedoria feminina nos protegeu. Isso porque não estávamos preparados para mergulhar no mundo da Nefesh Elokit sem que feridas fossem provocadas em nosso ego. Esse é o ponto crucial em se lidar com a Nefesh Elokit, precisamos estar preparados e conscientes do estado puro com D´us para que saibamos lidar com nossos instintos animais também. Esse conhecimento e preparo é dado pelas energias de Biná, que restringem as energias de Chochmá direcionando para o entendimento. A Nefesh Bechamit é o instinto de preservação, a Nefesh Elokit, o lado “Divino” da alma, nos conectando a aspirações mais elevadas e nos uno a outra alma. A Nefesh Bechamit é egocêntrica, a Nefesh Elokit altruísta. Nessa Sefirá, a Chochmá, a centelha de consciência, é que acontece esse conflito interno. É a nossa luta diária entre o prazer e o dever, o querer e o poder, a auto-preservação do ego e a entrega espiritual. Esse conflito é tratado na Cabalá através das meditações, da conscientização e interação dos fluxos mentais e emocionais, criando um autodomínio para viajarmos seguramente entre os quatro mundos de nossa alma, Atsilut, a Vontade Divina, Beriyá, a inata natureza da mente, Yetsirá, o plano da emoção e Assiyá, o tempo, espaço e a consciência terrena.
A letra Alef do alfabeto hebraico é o símbolo místico dessa dualidade de Chochmá. Vou transcrever uma meditação invocada pelo Rabino Laibl Wolf para interiorizar o significado de Chochmá, A Nefesh Elokit e a Nefesh Bechamit.

“O valor numérico da letra alef é ‘um’. Ela representa o D´us eterno. Sua energia independe do tempo e da medida; ela é infinita. O alef é composto de três elementos: o braço superior, o braço inferior e o conector diagonal. O alef é a letra da integração pessoal. Ela nos ensina que, quando somos verdadeiramente completos, ambas as dimensões existem em equilíbrio dentro de nosso ser. O transformador diagonal redireciona o egocentrismo a uma postura de positiva auto-estima - o reconhecimento de seus dotes, predicados e singularidade. O “eu” da ordem superior direciona o seu comportamento de forma que o seu dote possa ser conferido a outrem, levando a relacionamentos próximos, de paz e harmonia. Olhe para o braço superior da letra. Este se refere ao seu “eu” da ordem-superior, denominado Nefesh Elokit (o componente Divino da alma). Sinta-se como se estivesse inalando o hálito de D´us. Sinta sua conexão com a Presença Divina. Agora olhe para a parte inferior da letra. O braço inferior se refere ao seu “eu” da ordem-inferior, o Nefesch Behamit (a latente tendência “animal” da alma). Mais uma vez, inale o hálito de D´us.Medite durante um minuto inteiro acerca de como estes dois traços coexistem dentro de vc. Agora olhe para o braço diagonal conector que equilibra os dois. Medite sobre o Nefesh Elokit e o Nefesh Behamit: o “eu” da ordem-inferior, e o “eu” da ordem-superior representando a generosidade, o altruísmo e a humildade.”
A letra Alef, torna-se o símbolo dos componentes da Chochmá. É o símbolo de invocação para o entendimento da dualidade da Sefirá de Chochmá, e em conseguinte o mecanismo de conflito-equilíbrio dessa Sefirá. A letra Alef torna-se um símbolo do autodomínio, do equilíbrio e a bússola para a viagem nas energias de Chochmá. As mudanças provocadas por Chochmá nos direcionam a uma nova vida, mais profunda, mais sentida, mais elevada, fazendo com que as adversidades sejam oportunidades de crescimento. Um relacionamento não pode gerar dor, uma relação entre o um homem e uma mulher e a criação de D´us, só pode ser divino (me referindo ao exemplo particular que coloquei aqui). A letra Alef, agora, é um anagrama de toda essa sabedoria.
No próximo capítulo estudaremos a Sefirá Biná (entendimento). Depois da terceira Sefirá - Daat, finalizamos o Fluxo Mental da Árvore da Vida, então colocaremos a nossa metodologia de pesquisa para consolidar esses conhecimentos. Primeiro utilizando a filisofica contemporânea para dar uma explicação menos etérea das Sefirot e depois, fazendo passar pelo modelo de Morin, o pensamento complexo, consolidamos a dinâmica de funcionamento de fluxo antes de proseguir. Quero fazer um anexo explicativo antes de proseguir, antes do capítulo 3 - Biná.

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