Até agora foram abordados assuntos de caráter geral e introdutório ao estudo da Árvore da Vida:
1) Fisiologia da AV (escreveremos dessa forma daqui em diante nos refirindo a Árvore da Vida), apenas mencionando a constituição e o fluxo de cada órgão da AV. Eu chamo de órgão qualquer parte da AV, pois são organismos vivos por onde a energia cósmica encontra os caminhos para fluir.
2) As ferramentas de entendimento da AV uma breve menção da sua utilização como meio de reflexão e processos de absorção de energias.
3) A metodologia a ser utilizada na dissecação dos órgãos constituintes e a forma de integrá-los num sistema único e complexo de reconhecimento das energias espirituais e emocionais internas.
4) As abordagens a serem utilizadas para a percepção das idéias: a) analogias, b) silogismos, c) paralelismos ao pensamento contemporâneo, e d) a abordagem do Zohar (livro mais conhecido e estudado da compilação cabalística).
5) A metodologia científica de pesquisa será a cartesiana, pois esta que estamos acostumados a entender, porém cabe uma explicação. Descartes criou a análise dos objetos da observação. Determinou os caminhos para a sistemática da análise como sendo a fragmentação do objeto de observação (que no nosso caso é a AV). Aqui está um grande erro de interpretação de seu modelo, ou pelo menos um conhecimento parcial de sua metodologia. Em seu livro, Discurso sobre o Método (1636), Descartes frisa que a fragmentação das idéias é com o objetivo de chegar ao conhecimento primordial e mais simples do conhecimento e não tão somente a fragmentação simples, que redunda no reducionismo, falseabilidade da interpretação e perda do significado essencial de um sistema. Assim, adotamos a fragmentação do sistema da AV tendo em mente esses objetivos: 1) conhecer a idéia primordial e mais simples dos órgãos constituintes da AV, 2) integrar os conceitos desfragmentado-os para chegar à metodologia Morin ( o pensamento complexo) e obter um sistema orgânico cognoscível, de fácil assimilação e interiorização do todo.
6) Técnicas de meditação desenvolvidas por cabalistas clássicos.
Bom, comecemos nossa viagem através das energias sutis de D´us, e que sua sabedoria infinita nos guie para o conhecimento de nossa verdade interior.
CHOCHMÁ
Chochmá é a primeira Sefirá no caminho para a busca do aprofundamento em nossa espiritualidade. Entendamos que nós todos não somos seres humanos, estamos seres humanos. Nossa verdadeira essência são as energias criativas de D´us. Nascemos com um corpo para que tenhamos um meio de “comunicação” com o meio física da criação. Se quisermos espiritualizarmo-nos precisamos utilizar os meios espirituais que dispomos.
Para entender uma primeira aproximação do significado da Sefirá de Chochmá vamos mencionar uma analogia utilizada pelo Rabinio Laibl Wolf, que é muito simples de absorver. O significado da Sefirá de Chochmá é como uma atividade de pesca. Temos um grande lago a nossa disposição, repleto de peixes, peixes vistoso, grandes, vigorosos em seu habitat ecológico. Nesse habitat os peixes estão livres, com vida própria alimentando-se mutuamente um dos outros. O habitat é perfeito para a auto-suficiência. Não precisam, eles mesmos de outro habitat de desenvolverem-se. O pescador lança seu anzol com uma isca e tira um peixe desse lago para alimentar-se, produzir energia física para continuar a viver, pois precisa de alimentos para saciar as necessidades de seu organismo que não é auto-produtor de energia. Chochmá é isso. Porém, um espaço para a energia espiritual. Chochmá como organismo vivo da energia criadora de D´us, é um fluxo energético capaz de tocar o mundo de Ein Sof e retirar de lá inspiração e criatividade. Chochmá é o catalisador energético que extrai os poderes de nossa alma das profundezas do subconsciente, revelando-nos à luz da consciência. No processo de pensar, a Chochma é a centelha divina que dá partida ao processo de cognição. Chochmá significa “SABEDORIA”. Sabedoria não é informação, sabedoria é a capacidade de transformar observações, fatos, informações em conhecimento. Se persistirmos em interpretar um evento sempre da mesma forma, negativamente, imbuída de medo e dor, é assim que nossa mente irá assimilar qualquer pensamento ligado à observação dessa idéia. A Sefirá de Chochmá disponibiliza o acesso às idéias, se a mente interpretar daquela forma negativa, a carga excessiva de stress irá agir de maneira a liberar hormônios que deflagram uma reação em cadeia de eventos bioquímicos. O Rebe de Lubavitch insistia que temos a capacidade de mudar a nossa natureza. Isto requer uma introspecção sistemática, auto-análise e coragem para se enfrentar. É o domínio da mentalização dos peixes pecados pela Chochmá. Poderíamos achar que um determinado pensamento sempre nos deixa ansioso. Fazendo esse pensamento viajar, e observando o cenário que o criamos, podemos criar e redirecionar o pensamento, fazendo com que as paisagens se tornem mais fáceis de manipular e tornando os pensamentos mais objetivos, positivos e confortáveis. A meditação cabalística tem a função de exercitar a mente para isso.
A primeira medição mencionada nesse texto foi para a expansão da consciência, o exercício constante dessa primeira meditação vai dar condições para a mente elaborar e construir cenários que mudem o padrão vibratório do pensamento. Fazer com que a mente obedeça ao nosso comando para a imaginação e acomodação desse cenário na mente e na alma.
Uma segunda meditação tem a função de arraigar na mente as condições para transformarmos qualquer padrão vibratório negativo em um padrão mais elevado e saudável para a mente e para o corpo. O exercício é a visualização da beleza e do bem estar do espírito conectado a um pensamento.
Meditação no. 2: A natureza em seu estado mais puro é a imagem que tem o poder de abaixar os níveis vibratórios da mente para alcançarmos o estado de contemplação, beleza, bem estar e satisfação. Sente-se confortavelmente. O corpo totalmente apoiado para que a mente possa se concentrar nas imagens criadas. Construa em sua mente a imagem de um ambiente na natureza que lhe traga o máximo de prazer e conforto ao coração. Um lago com águas cristalinas, pássaros voando pelas árvores, o vendo soprando entre as arvores e transpassando seu corpo trazendo sensações de frescor, suavidade, uma brisa aconchegante. Observe bem tudo que há em volta, árvores, o horizonte onde pode estar ocorrendo um crepúsculo, as ondas do lado, o barulho da água caindo, o som da natureza e dos pássaros, o cheiro da mata verde entrando nos pulmões. Faça desse lugar o seu lugar de prazer. Então para cada pensamento que lhe provocar desconforto viaje para esse lugar só seu, onde vc vai aprender a transformar as sensações desagradáveis em sensações de prazer. Os pensamentos negativos e pesados abandonam sua mente. Com o tempo, o exercício dessa meditação vai fazer com que vc possa alterar qualquer nível de vibração desconfortável fazendo os pensamentos inúteis, os pensamentos que foram enraizados por traumas, abandonarem a mente e o coração.
Com as Sefirot do fluxo do pensamento, iremos ter mais ferramentas para alterar a própria natureza do nosso subconsciente. Com a Cabala nós aprendemos como é que podemos usar o nosso poder de crença (essa crença vai ficar mais clara com a terceira Sefirá, Daat) para mudar, não só a química de nosso corpo, mas significativamente, as conexões e ligamentos espirituais de nosso “eu” superior.
O Fluxo de Chochma pesca pesca do mundo de Ein Sof verdades puras, pensamentos puros à priori, que devrão ser transformados em pensamento e sabedoria pela mente. Neste ponto é que podemos utilizar o modelo sobre o pensamento criado por Immanuel Kant em seu livro Crítica da Razão Pura, para termos uma explicação filosófica e menos etérea do que é Chochma, abordaremos isso num capítulo em especial, logo após o presente capítulo. Dessa forma dispomos em nosso sistema orgânico espiritual uma ferramenta para pescar verdades. Verdades divinas, que irão passar pelo crivo de nossa razão. Se absorvermos beneficamente essa verdade, nosso espírito recebe iluminação, do contrário, trevas. Vamos entender um pouco mais esse processo de “pescar verdades divinas” nesse lago de peixes que é o Ein Sof. Abordaremos o mundo do Ein Sof no final do estudo da Cabala, pois é uma Sefirá (Keter) de uma energia extremamente sutil, e necessita que estejamos preparados para absorver esse conhecimento. O lançar do anzol para o lago, contrariamente a analogia, não é um processo consciente. Não ficamos pensando em D´us para ter uma idéia, ou um estado de imaginação, a luz de uma idéia criativa. Isso acontece involuntariamente. Li um livro com o título de “Estratégias de Napoleão”. O autor chamava essas estratégias de “estalos de consciência”. O livro começa a analisar o pensamento de Napoleão e encontra em vários personagens da história o mesmo estalo de consciência que analisou em Napoleão. Isso é Chochmá. Um estado de iluminação para “preencher-se” com uma verdade divina do processo fluídico de Sua sabedoria. Fiquei decepcionado, ao encontrar logo numa primeira Sefirá do conhecimento uma atividade involuntária, que não depende do nosso esforço para adquirir. Porém, mesmo sendo involuntário, é possível de ser controlado. Quero colocar um conceito muito importante nessa etapa, a expansão da consciência. É a atividade que vai nos libertar os fluxos involuntários e nos abrir um mundo para participarmos da continuação da Criação, que é um movimento eterno. Para podermos ter um controle maior dos fluxos da Chochmá é necessário um exercício constante, sistemático e progressivo da expansão da consciência. Que consciência? Consciência da existência. Entram em cena agora as atividades de meditação cabalística. Uma pausa para explicar o processo desse estudo que estamos fazendo. Primeiro estamos fazendo uma análise fragmentada de cada Sefirá, atribuindo meditações cabalísticas para o desenvolvimento de sua atividade voluntária, segundo uma análise sob a ótica do conhecimento contemporâneo e em terceiro, iremos atribuir os conceitos da astrologia cabalística para individualizar esse modelo da alma. Teremos o conhecimento sutil das energias, um conhecimento racional, os exercícios para interiorizar as energias das Sefirót e por último o conhecimento de como essas energias agem em nós mesmos. Continuando, pescar um peixe, ou pescar uma verdade do Ein Sof involuntário porque não estamos preparados para acessar voluntariamente esse mundo tão sutil e etéreo. A meditação é algo muito pessoal, uma atividade que deve utilizar dos esquemas presentes em nossas consciências para acessarmos novos conhecimentos, novas revelações. Darei uma visão do tipo de meditação necessária para expandir a consciência que a Chochmá necessita, e cada um de nós formula a sua melhor maneira e mais proveitosa de alcançar os objetivos.
A meditação para treinar e cada vez mais expandir a consciência utilizada na Chochmá tem a ver com a visão do mundo que vivemos e abrir a mente para que energias inteligentes encontrem espaço em nossa mente para o novo. A meditação deve ser o mais simples possível, para que a mente dê espaço para que as emoções participarem do processo de interiorização. O exercício é o seguinte. Sente-se confortavelmente e sinta-se relaxado, onde nenhum músculo de seu corpo precise estar contraído. Até mesmo a cabeça precisa estar apoiada para não forçar os músculos do pescoço e dos ombros. Observe à sua volta todos os móveis, objetos, cores, até mesmo cheiros, texturas, todos os detalhes possíveis. Em seguida feche os olhos e mergulhe em sua mente. Reconstrua todo o ambiente dentro de sua mente. Construa mentalmente onde está, mas em sua consciência. Não importa se vai construir errado ou certo, o importante é o exercício de construir. Primeiro partindo do mais próximo de você em direção ao mais longe de sua realidade interior. Em seguida, comece a integrar a este único ambiente, o seu mundo externo. Os outros quartos, o corredor, os banheiros, sempre se preocupando em visualizar os detalhes de cada lugar. É como se vc tivesse uma câmara digital filmando cada ambiente. Porém, o mais importante, é agregar os ambientes, somar ao que já está construído em sua mente, ir aumentando o cenário presente em sua consciência. Saia mentalmente para a rua. O interior do ambiente onde está e todos os cômodos continuam em sua mente, você está agregando novos espaços. Agregue as ruas adjacentes, os prédios vizinhos, com o tempo entrando nos apartamentos. As pessoas andando na calçada, o jornaleiro vendendo jornais, o comércio em atividade. Não é um exercício de adivinhação, mas de imaginação. A cada exercício de meditação vai ficando mais fácil reter os lugares de onde saiu ou passou, estamos reconstruindo o bairro em nossa mente como se estivéssemos olhando tudo de cima e ao mesmo tempo de perto, visualizando os detalhes. O objetivo é agregar ao ambiente onde estamos sentados, todo o bairro, toda a cidade, todo o país, o continente, o país, o planeta e finalmente o Universo.
Isso precisa de dedicação, força de vontade e persistência. É necessário entender para que estamos fazendo esse exercício. Estamos abrindo a mente para acessar o mundo do Ein Sof, dando condições internas para ver o que não pode ser visto, ouvir o que não pode ser ouvido e até tocar o que não pode ser tocado. No início as imagens fogem, insistentemente tente as reter, volte atrás, recomece, parta de momentos anteriores, não deixe que o todo escape de sua consciência. É como querer pegar um peixe escorregadio, ele foge das nossas mãos, mas aos poucos percebemos que as escamas do próprio peixe ajudam a agarrá-lo. Percebendo que apertando contra o sentido das escamas o peixe deixa de ser escorregadio. O mesmo ocorre com a visualização do que está longe, percebemos formas de conseguir reter as imagens. Sempre agregando algo mais, porém sem forçar a natureza do seu processo de imaginar, pois você está ensinando para sua consciência nova forma de funcionar. Veremos mais adiante, no próximo capítulo, no modelo cognitivo de Kant como essa meditação pode ser explicada pelos mecanismos da filosofia fenomenológica.
Terminando de estudar cada fluxo do organismo cabalístico da AV, mental, emocional e físico, utilizaremos o modelo do pensamento complexo para integrar as Sefirot de cada fluxo: o sistema de cada fluxo, a imagem hologrâmica (de holograma) de cada fluxo, a retroatividade entre as Sefirot, a recursividade existente do sistema, a independência e autonomia de cada Sefirá, a dialógica para alcançar o equilíbrio energético e a reintrodução de cada mudança na consciência Sefirótica.
Iremos abordar os assuntos da astrologia cabalista, os simbolismos das letras hebraicas de cada órgão da AV, os astros do sistema solar na AV, ao final de cada fluxo energético. Assim, depois de estudarmos Chochmá, Biná e Daat, caracterizaremos esse fluxo mental com os temas apontados, e assim para cada fluxo, mental, emocional interiorizado, emocional exteriorizado e o fluxo físico das sensações.
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